domingo, 6 de abril de 2014

Fé em 847 terreiros do Rio ganha livro contra a intolerância

Matéria da Pesquisa de Mapeamento dos terreiros do Rio de Janeiro, idealizada pela Casa do Perdão e realizada pela PUC-Rio:




Fé em 847 terreiros do Rio ganha livro contra a intolerância

Pesquisadoras da PUC-RJ fazem estudo sobre realidade de praticantes de religiões de matrizes africanas na cidade.

“Umbanda não é quimbanda, candomblé só africano”, já diferenciava um verso de “Linha do candomblé”, uma das curimbas de terreiro mais antigas e famosas do Brasil. Mesmo assim, dúvidas, preconceito e pouca informação sempre deixaram as religiões de matrizes africanas, tradicionalíssimas no território carioca, numa zona nebulosa. Não se sabe muito bem onde se concentram, quem é praticante ou não e o endereço dos centros. E é de se espantar que apenas agora elas estejam sendo colocadas oficialmente no mapa do Estado do Rio.

As responsáveis são as pesquisadoras da PUC-RJ Sonia Giacomini (Departamento de Ciências Sociais) e Denise Pini (Departamento de Serviço Social), que juntas escreveram “Presença do axé - Mapeando os terreiros no Rio de Janeiro”, parceria das editoras PUC-RJ e Pallas, cujo lançamento será no dia 6 de maio, na PUC-RJ. Depois de uma vasta pesquisa iniciada em 2008, elas fizeram, pela primeira vez no país, o que chamam de uma cartografia social dos locais de culto na cidade. Ao todo, foram mapeados 847 terreiros, com visitas a cada casa.


— Fomos procuradas pelas lideranças dessas religiões de matrizes africanas para a realização da pesquisa. Elas queriam muito isso — conta Sonia Giacomini.

A reivindicação do mapeamento se dá por conta da até então inexpressiva voz que os praticantes dessas religiões sempre tiveram nos resultados de pesquisas, como as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como nessas pesquisas não é permitido assinalar mais de uma religião, grande parte dos adeptos da umbanda ou do candomblé se considera católica, religião dominante no país.

De acordo com o último Censo Demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, 3.229.192 pessoas disseram ser católicas apostólicas romanas; 1.477.021, evangélicas; e apenas 81.662, praticantes da umbanda e do candomblé.

— O trânsito religioso, ou seja, uma pessoa transitar por mais de uma religião, está aumentando muito, mas essas pesquisas não identificam isso — observa Sonia. — Esses resultados, que não correspondem à realidade do Rio, acabam tirando qualquer voz ativa que esse grupo possa ter. Nossa pesquisa mostra que há muito mais terreiros de religiões de origem africana do que se poderia imaginar.

Os resultados míopes dos censos demográficos ficam mais evidentes quando o número de templos religiosos são comparados. Segundo a Arquidiocese do Rio, existem no estado 1.147 locais de cultos católicos. Já os 847 terreiros mapeados pela pesquisa da PUC-RJ não representam, segundo Sonia, nem de longe a totalidade deles no Rio.

O mapeamento contou com cerca de 30 profissionais — a maioria pesquisadores de campo — e um conselho religioso, o Griot, formado por 14 líderes de religiões africanas. Uma constatação foi o aumento da intolerância. Localizados em sua maioria na Baixada, os terreiros e seus frequentadores sofrem constantes agressões, verbais, morais e até físicas.

— O aumento da intolerância está diretamente ligado ao crescimento das religiões pentecostais — diz Sonia.

Segundo o livro, as agressões são variadas: desde um evangélico divulgando sua religião com um carro de som na porta de um terreiro até denúncias de cárcere privado à polícia quando há um praticante num ritual de iniciação na umbanda ou no candomblé.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/fe-em-847-terreiros-do-rio-ganha-livro-contra-intolerancia-12106229#ixzz2y7Wetdqn)


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