O Centro Espírita Casa do 
Perdão vem por meio desta sugerir uma reflexão da comunidade religiosa 
Umbandista e Candomblecista á cerca da eleição presidencial de 2010.  Após 
observarmos o cenário das propagandas eleitorais para o segundo turno, 
resolvemos nos pronunciar afim de socializar nosso ponto de vista a respeito da 
candidatura de Dilma Roussef. Para nós estudantes das ciências sociais e 
políticas nada é surpresa no que se refere à quantidade de intrigas e calúnias 
que estão sendo lançadas nesta reta final de campanha, o que nos assusta é o uso 
oportunista que fazem da internet, este moderno e potente veículo de comunicação 
para lançarem boatos tecnicamente elaborados para comprometerem a imagem de 
Dilma Roussef. O que estamos comprovando mais uma vez, é como a comunidade 
religiosa afro brasileira fica facilmente refém deste tipo de situação em 
virtude de nossa frágil desinformação sobre como funciona exatamente o sistema 
político brasileiro.  Ao invés de nos preocuparmos com os rumores de que a 
candidata Dilma é a favor do aborto e que se posiciona contra os religiosos de 
matriz africana, precisamos refletir com bom senso e lucidez sobre a nossa 
organização institucional dentro do país para somente então dizermos que estamos 
à margem do processo decisório eleitoral brasileiro. Um exemplo repetitivo que 
costumamos usar para ilustrar o nosso ponto de vista sobre tal questão é o 
convite inédito do Supremo Tribunal Federal as religiões existentes no país para 
consultá-las quanto suas posições referentes ao aborto. Esta audiência publica 
foi transmitida ao vivo pela TV Justiça (conforme link abaixo) e lá somente 
estiveram presentes os representantes do Segmento Católico (CNBB), dos 
Evangélicos (IURD) e dos Cardecistas (Associação dos Médicos Espíritas do 
Brasil), e antes que qualquer um de nós diga com indignação que os umbandistas e 
candomblecistas não receberam o convite para participar de tal audiência, 
gostaria de perguntá-los a que órgão o Supremo deveria se reportar para nos 
convidar, uma vez que somente estiveram presentes órgãos que representam 
nacionalmente estes segmentos religiosos participantes.  Novamente neste momento 
eleitoral percebemos quanto o posicionamento religioso está sendo importante 
para definir o apoio e compromissos de governo e novamente volto a perguntá-los 
a quem mesmo os presidenciáveis Dilma e Serra devem se reportar para solicitar 
nosso apoio??? Pois é, a verdade é que não temos um órgão constituído 
juridicamente, politicamente, economicamente e nacionalmente para ocupar tais 
espaços e em nosso ponto de vista é neste item que devemos prender nossas 
atenções ao invés de pegarmos carona no “disse me disse” via web aumentando os 
pontos que os contos contam sem sequer fazermos uma reflexão lúcida sobre os 
fatos. Por favor, não subestimemos a sagrada inteligência que os Orixás e nossos 
ancestrais nos dão e comecemos a tentar entender como o processo funciona. 
Alguém já ouviu falar de bancada umbandista e ou candomblecista dentro das 
Câmaras Municipais, nas Assembléias Legislativas, Federais ou dentro do 
Senado???  Já que até o presente momento não nos preocupamos com nossa 
organização sócio política e econômica e ainda temos o disparate de termos entre 
nós irmãos que se recusam a discutir política, como se isto fosse um assunto 
sujo aos quais os praticantes da umbanda e do candomblé não devessem participar; 
gostaríamos de dizer que se por ventura a bancada evangélica ou católica, que 
são fortíssimas nas estâncias de governo, aprovem uma Lei que proíba, por 
exemplo, o uso de atabaque ou de oferendas em espaços públicos, nós que lá 
dentro não temos voz e representação, seremos obrigados a acatar, pois é lá que 
são elaboradas todas as leis que regulam os cidadãos brasileiros.  Então como 
dizer que nos recusamos a não pensar sobre a política, se é ela, que elabora e 
aprova as leis que nos regulam????? Está mesma bancada deu entrada no projeto de 
lei que reconhece o Gospel como Patrimônio Cultural do País, e nos perguntamos 
se alguém lembra do Gospel fazer parte do folclore brasileiro??? Por isto 
precisamos repensar nosso posicionamento sobre os fatos políticos, pois o que 
não é possível é daqui a quatro anos permaneçamos na mesma situação, ou seja 
omissos, silenciados e invisíveis a cerca da nossa participação em um processo 
eleitoral presidenciável tão importante como este que estamos vivendo neste 
momento.  Realmente a candidata Dilma fez acordo político com as bancadas 
evangélica e católica para se fortalecer, pois as calúnias que tiraram muitos 
dos seus votos no primeiro turno foram todas de fundo religioso como o aborto e 
o casamento homossexual.  Nós não fomos consultados, volto a dizer, porque não 
temos representação institucional nacional à altura de um acordo político como 
este que nos possibilite declarar publicamente nossa opinião eleitoral.  A 
despeito de nossa concordância, é assim que funciona o sistema político 
brasileiro. É de fato muito frágil a nossa situação. Temos que ter a franqueza 
de dizer que se por acaso um dos presidenciáveis fechasse apoio político com um 
pequeno grupo de religiosos afro-brasileiros estes não teriam o poder de 
comprometer todos os votos dos religiosos do nosso segmento, diferentemente dos 
evangélicos e católicos que não somente comprometem seus votos como elegem seus 
indicados. Poucos são as Mães, Pais, Yalórixas, Babálorixas e Zeladores de Santo 
entre nós, que possuem uma postura de aparente vanguarda e já despertaram para a 
construção de uma nova visão sobre religião e política, estes são aqueles que 
como nós não costumam ser bem compreendidos por muitos irmãos de fé e tornam-se 
facilmente alvo de críticas e ataques oriundos do próprio segmento que em nosso 
ponto de vista são frutos mais da ignorância mais do que da contrariedade 
propriamente dita, mas se por acaso seja a discordância irrefletida que move o 
“povo do contra” também nos cabe respeitá-los. Afinal não haveria democracia se 
a diversidade não fosse respeitada. Logo falamos nesta carta para aqueles que se 
encontram conosco em pelos menos alguns pontos em comum que temos apontado e 
pedimos que se informem a respeito do nosso quadro político dos últimos 
cinqüenta anos e pesquisem qual foi o ultimo governo que olhou para nós, 
 sabemos que depois de Getulio Vargas somente Lula direcionou política publica 
para nos alcançar com a criação da SEPIR- Secretaria Especial de Promoção da 
Igualdade Racial, que embora seja um órgão para promover a igualdade racial, 
abriu espaço para nossas demandas na gestão do então Ministro Edson Santos.  
Todos nós sabemos que este Ministério será imediatamente desconstituído caso o 
candidato Serra seja eleito, porque esta direita burguesa nunca se importou 
conosco. Pesquisem também em sua cidade e estado qual foi o ultimo religioso 
assumidamente umbandista ou candomblecista eleito para o legislativo, executivo 
ou câmaras municipais. Aqui no Rio de Janeiro podemos dizer que desde da década 
de 70 não elegemos uma pessoa assumidamente da religião, surpreendentemente 
elegemos  aqueles não adeptos da religião, porém que se mostram simpatizantes a 
nossa tradição religiosa. Para nós é um mistério porque os religiosos afro 
brasileiros se recusam a refletir e discutir sobre tais pontos políticos, 
enquanto os evangélicos e católicos os fazem tranqüila e publicamente, sem um 
pingo de vergonha e alias porque deveriam ter se estão apenas exercendo seus 
direitos constitucionais, elegendo aqueles que consideram seus dignitários 
representantes junto ao poder público. Talvez o que precisamos é entender que os 
tempos mudaram, já não precisamos mais nos esconder, o preconceito e a 
perseguição desde o início dos tempos não conseguiu matar nosso amor e fé em 
nossa ancestralidade e tradição africana, indígena e portanto brasileira. Somos 
um povo forte, embora ainda desarticulado.  O Mapeamento dos Terreiros 
financiado pelo governo Lula através da SEPIR é um primeiro passo para a 
construção de uma política públicas sólida que visa apoiar o inicio de nossa 
organização social.  Mas muito ainda temos que fazer. Foi o governo do 
Presidente Lula que também assinou à Carta Compromisso de Combate a Intolerância 
Religiosa (link abaixo) então nos assusta como muitos ainda tem dúvida sobre em 
quem  votar para Presidenta, somente Dilma manterá tais ações políticas e não 
podemos culpa - lá por nossa ausência de organização, o fato de  aliar-se aos 
evangélicos e católicos não significa que a mesma tenha rompido conosco um pacto 
de apoio recíproco que sequer foi feito, talvez não por falta de vontade e 
inteligência política dos coordenadores de campanha, mas por falta de nossa 
própria organização jurídica, política e portanto institucional.  Novamente 
voltamos a dizer que nosso maior inimigo não são nossos irmãos católicos e 
evangélicos, mas sim nossa própria ignorância a respeito de nossos direitos e 
deveres e é exatamente isto que pretendemos combater com as ações que a Casa do 
Perdão faz ao longo dos seus onze anos de existência, através das palestras e 
orientações gratuitas para legalização dos Terreiros e com a idealização do 
Projeto de Mapeamento dos Terreiros do Rio de Janeiro que ainda tem muito mais a 
nos dizer positivamente sobre o povo de santo de nosso Estado e desejamos 
sinceramente que este sirva também como impulso aos religiosos dos outros 
estados que ainda não começaram a pensar sobre o inicio do processo de se 
descobrir e em seguida quantificar.  Votar para aquela elite eurocêntrica e 
burguesa que sempre esteve no comando deste país é cometer um crime com este 
momento inédito que estamos vivendo em nossa história atual, depois de cinqüenta 
anos de ostracismo e invisibilidade, sem termos um governo que nos enxergasse,  
Dilma merece nosso crédito de confiança por que está comprometida em manter as 
políticas do Presidente Lula e isto já é para nós o bastante, porque o que para 
os discordantes, dentro da religião, é pouco para nos já é um bom começo, afinal 
o que é pouco comparado ao nada que sempre recebemos dos governos anteriores ao 
Presidente Lula???  Reflitamos com franqueza, coragem e atitude se nossas 
críticas não devam ser mais direcionadas as nossas ações de organização internas 
do que para o processo externo que mal nos enxerga, para eles nós somos todos 
macumbeiros e ponto, e se isto nos incomoda somos nós que devemos mostrar o 
contrário dando o primeiro passo com o inicio de nossa organização.  Enquanto 
nós fizermos questão de nos diferenciarmos entre nós, dizendo que sou de tal 
tradição ou nação, perdemos tempo em formar um bloco coeso que não irá discutir 
ritualísticas religiosas, mas sim, o nosso papel dentro desta sociedade que 
depois de 500 anos já pode dizer que tem religião brasileira, indígena e de 
matriz africana. Conservemos nossas especificidades internamente e externamente 
vamos nos organizar para então construir o respeito que merecemos dentro do 
nosso próprio país, que tem a cara da Umbanda e do Candomblé e vamos com Dilma 
para o Brasil seguir mudando!!!         
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Pinto
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